A cultura do declínio em seguro

D. João VI criou a primeira seguradora no Brasil em 1806, na Bahia com a denominação de Boa Fé, pois, o contrato de seguros tem a boa fé como acordo tácito entre pessoas ou empresas.

Com mais de dois séculos de atividades, pouco a pouco o Brasil foi desenvolvendo normas e cláusulas próprias, afastando-se das cópias das apólices lusitânicas.

O mercado brasileiro tornou-se independente da matriz europeia conquistando um percentual do PIB, ainda tímido, para acompanhar o crescimento da tecnologia e da economia que pari e passo vem angariando representatividade mundial.

A cultura de não aceitar determinados seguros sem conhecimento verdadeiro do risco é uma posição cômoda, preconceituosa e atrasada para um setor da economia com a pretensão de dobrar seu faturamento nos próximos anos.

Em Tribuna livre do JCS de julho de 2011, Admir Espudaro, na qualidade de técnico no tema, demonstra claramente sua indignação para o problema e oferece contribuição para solucionar o impasse criado.

O microsseguro com forte apelo social será implantado, ao que tudo indica, em 2012, para trabalhadores de baixa renda, deixando de fora a economia informal, para atender a complicada burocracia que veio na bagagem de D. João VI. As pessoas estão preparadas para a implantação do microsseguro? Ou teremos uma sequência de riscos gravosos?

A tramitação de documentos na liquidação de um sinistro trará agilidade por se tratar da população menos favorecida?

Os riscos declináveis ou gravosos faram parte do dia a dia desta modalidade de seguro que não experiência nem evidência de seus resultados?

A seguradora que sempre foi vanguarda na área de veículos tem se manifestado favoravelmente ao seguro de carros mais antigos como forma de proteger usuários pobres que não podem atualizar sua frota por novos itens, porém, continua declinando determinados veículos como as ambulâncias, baseada em fatos passados.

Os técnicos responsáveis pelas respectivas áreas das seguradoras deveriam, de quando em vez, acompanharem seus colegas das áreas comerciais para sentirem as dificuldades sofridas na angariação de produção nova para a companhia. Saírem um pouco do ar condicionado da confortável sala com telas planas e papéis espalhados ouvirem a voz do cliente.

A situação atual, com forte tecnologia e a instantaneidade das informações, requer revisão no prazo de até 15 dias para aceitação de uma proposta de seguro. Poderia ser reduzido pela metade sem perda de qualidade na aceitação.

Declinar da aceitação de seguro sem uma completa avalição do risco comprovadamente indutora de sinistralidade demonstrada pela ciência atuarial serve de instrumentos para criação de cooperativas biombos albergando novo mercado paralelo e não regulamentado.

Quando várias seguradoras de grande porte não fazem seguros de uma frota de ambulâncias no território brasileiro, deixa a sensação que não é o transporte adequado para pacientes, acompanhantes e profissionais do ramo. Devemos fazer denúncias aos órgãos competentes e a população em geral que confia na segurança e cuidados com as pessoas transportadas.

Espero que seja somente a influência da cultura do declínio.

Ronaldo Monteiro Costa.

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