A Evolução da Doença do Trabalhador

A atividade manual sempre esteve presente na vida do homem dando-lhe o domínio sobre os demais seres do planeta, principalmente pela força e pela habilidade com as ferramentas de trabalho, por vezes, causando-lhe algum machucado pelo excesso do movimento.

Os séculos foram passando novos saberes incorporando ao ambiente social da humanidade, até que em 1717 o médico Bernardino Ramazzarini descreveu a cãibra dos escreventes que acometia um pequeno número de criaturas dedicadas à escrituração de documentos para registros cartoriais com dor, dormência, perda de força e dificuldade em permanecer na profissão de escriba.

Ramazzarini descreveu, nas suas observações, os motivos da doença: sedentarismo do oficio; movimentos repetitivos das mãos; e a atenção redobrada para não borrar a escrita. A interação de fatores faz parte das considerações atuais das pesquisas científicas.

A tecnologia evolui no sentido de aumentar a produtividade com menos esforço e gastos de energias corpóreas. Com esse pensamento em 1830 houve a substituição da pena das aves usadas pelos escreventes pela pena de aço elevando o número de palavras e sinais escritos, e, o contingente de profissionais na especialidade, como consequência direta a quantidade maior de doentes vítimas da eficiência da produção.

O processo produtivo conquistou outros espaços com novas profissões como telegrafistas, taquigrafistas e telefonistas acometidos dos distúrbios relacionados ao trabalho. Mas, representavam pequena parte da massa trabalhadora sem afetar a revolução industrial que atraia grande número de trabalhadores rurais para as cidades na busca de melhor remuneração com menor esforço físico.

A automação das fábricas, a prestação de serviços públicos ou privados, rurais ou urbanos, visava o aumento da competitividade, da produtividade e dos resultados com menor demanda física dos operários dando-lhes em troca o estresse, a imobilidade, os vícios posturais, por vezes, a inadequação do posto de trabalho.

Alguns países no inicio do século passado reconheceram a situação e passaram a indenizar e afastar da função os acidentados pelo micro trauma acumulativo.

No Brasil e em muitos países houve demora no reconhecimento das alterações relacionadas com a ocupação até a eclosão de verdadeira epidemia de doenças indenizáveis nas décadas de 70 e 80 com milhares de pessoas solicitando indenizações ou aposentadorias precoces vítimas da agilidade do mercado produtivo.

Para controlar e normatizar a grande demanda previdenciária o Governo estatizou todo o acidente do trabalho, criou normas e guias aos profissionais de saúde no sentido de reduzir a enchente de processos judiciais permanecendo até a presente data com um passivo tão alto que desestimula a iniciativa privada de participar ativamente no seguro de acidente do trabalho.

O movimento de reinvindicação que mais chamou atenção dos poderes constituídos foi o dos bancários pelo expressivo número de indivíduos com alterações osteomuscular relacionadas ao trabalho.

O advento de tecnologia cada vez mais avançada acelera a produção de bens e serviços, diminui o dispêndio de energia física com substancial aumento das lesões músculo tendinosas, pois a evolução e a adaptação de nova solicitação de esforço carecem de séculos para o desenvolvimento. Quando o homem passou para a posição bípede pagou com a lombalgia o custo da conquista. O mesmo ocorreu no instantâneo que o lavrador largou a enxada para atuar com serviços leves da urbanização ganhou a bursite de ombro como prêmio.

A velocidade tecnológica das máquinas para incremento dos resultados e da competitividade não é acompanhada pela biologia do ser humano, e, desse descompasso surgem novas doenças.

A solução do problema é multifatorial exige tempo, treinamento, educação para o trabalho quando ninguém quer esperar. Prevalece o imediatismo.

Dr. RONALDO M. COSTA – DEP. MÉDICO DA MONTPOLO CORRETORA DE SEGUROS.

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